Thursday, January 29, 2015

A História de Martin Pistorius

"Todos os recursos de que precisamos estão na mente." - Theodore Roosevelt

A história que escolhi para inaugurar este blog  foi extraída de um podcast novo chamado 'Invisibilia', palavra que em latim significa ‘coisas invisíveis’, esse podcast fala sobre forças invisíveis que controlam o comportamento humano, como ideias, crenças, suposições e emoções. 

O episódio que retrato hoje é chamado: A História Secreta dos Pensamentos. As apresentadoras Alix Spiegel e Lulu Miller questionam se nossos pensamentos estão relacionados com nossos desejos interiores e se eles revelam quem realmente somos.

Hoje em dia alguns psicólogos já aceitam que nem todos os nossos pensamentos fazem sentido ou devem ser levados tão a sério. Podemos contrariá-los e mudarmos a forma de pensar. Técnicas como a mindfulness, uma forma de meditação, por exemplo, nos auxiliam a controlar o que pensamos. 
Leiam a incrível história de Martin Pistorius, nascido e criado na África do Sul, que por 13 anos teve apenas seus pensamentos como companhia.


Quando Martin tinha 3 anos de idade, dizia que queria ser o “homem elétrico”, seus pais, Joan e Rodney Pistorius contam que Martin pedia-lhes para comprarem aparelhos eletrônicos pra ele. Ele construía coisas como uma estrela que brilha para a árvore de Natal, um sistema de alarme para manter o irmão longe de seus Legos; Martin até mesmo consertou uma tomada que ninguém mais sabia como consertar. Seus pais não faziam ideia de como Martin sabia fazer tudo aquilo.  

Certo dia em 1988, quando Martin tinha 12 anos, chegou em casa se sentindo muito doente, com a garganta inflamada, pensou ser gripe. Mas ele não sarava. Sua mãe conta que ele “dormia o dia todo, como um bebê”. Quando acordava recusava comida, seu pai era obrigado a forçar comida para dentro de sua boca. Ele começou a apresentar outras complicações como sangramento no nariz.

Vários exames foram feitos e nenhuma doença foi detectada. Aos poucos Martin foi piorando, perdeu a capacidade de se movimentar sozinho, de manter contato visual, até mais tarde perder sua habilidade de falar. “A última coisa que ele disse, ainda no hospital foi ‘quando casa?’. O que ele queria saber era quando ele voltaria pra casa.” conta Joan, muito emocionada. 

E assim ele foi piorando… no segundo ano de sua doença saiu o resultado de uma possível doença: Meningite criptocócica. Eles foram alertados pelos médicos de que seu caso não havia esperança, que ele viveria em estado vegetativo e que tinha zero de inteligência. “Mantenha ele confortável até sua morte.” disse o doutor aos pais de Martin.

O tempo foi passando e a dura rotina continuava como descreve Rodney Pistorius: “acordar todos os dias as 5 da manhã, trocá-lo, colocá-lo no carro, levá-lo ao centro de cuidados especiais, ir buscá-lo, dar banho, alimentá-lo, colocá-lo pra dormir, colocar o alarme para dali duas horas para eu acordar e ir virá-lo na cama para que ele não ficasse com escaras”.

Um dia, Martin escutou sua mãe dizer: “Espero que você morra.” Joan sabe que aquilo foi uma coisa horrível a ser dita, mas como mãe ela não suportava mais ver o filho naquela situação. 

…acordar as 5 da manhã, trocá-lo, colocá-lo no carro… dar banho, alimentá-lo, colocá-lo pra dormir… acordar as 5 da manhã, trocá-lo…


Havia vida dentro daquele ser? Ninguém sabia. Não havia como saber. “Sim, eu estava lá. Não desde o começo, mas mais ou menos 2 anos depois de entrar em estado vegetativo eu comecei a acordar” diz Martin digitando em um teclado de um computador que transmite as palavras escritas, em voz. Durante oito anos, enquanto todos pensavam que ele não estava presente, ele estava. “Eu estava ciente de tudo, como uma pessoa normal”.

Martin acredita ter acordado quando já tinha 16 anos, e ao despertar para a vida, para seu pavor, ele não podia mexer nenhuma parte de seu corpo, nem mesmo falar.

Mais tarde Martin escreveu um livro chamado ‘Ghost Boy’, sem tradução para o português; ele conta que escolheu o título pois era assim que se sentia, um fantasma, uma pessoa que existe, que está ali mas que ninguém sabe. Em um dos trechos ele descreve uma passagem em que tenta avisar seu pai de que ele está consciente: “Eu estou sentado na cama, meu coração está batendo enquanto meu pai tira minha roupa, quero que ele saiba, quero que ele entenda que voltei, mas meu pai não me reconhece”. Naquele momento Martin tentava dizer “pai, você não consegue ver?” mas seu corpo não obedecia, suas tentativas fracassavam, ele tentava de novo e nada. “Todos estavam tão acostumados com o fato de eu não estar ali que nem perceberam quando voltei a estar presente”. 
Apesar de poder ver e entender tudo, aquilo não fazia diferença para ele. Quando aceitou que ficaria naquele estado, que estava realmente preso, ele começou a ter pensamentos como: “Você está completamente sozinho”, “você é patético, impotente, você ficará sozinho para sempre”… “esses pensamentos estavam me humilhando”, diz Martin. Os pensamentos começaram a consumi-lo, mas diferentemente de nós, ele não podia ligar para um amigo pra contar, não podia sair pra correr, não podia nem se mexer na cadeira. Ele estava preso em sua mente.

Suas cuidadoras não tinham muito cuidado com ele, uma delas colocava sopa quente em sua boca, outra o deixava com frio na cadeira de rodas, o colocavam para assistir desenho por horas, todos os dias, durante meses, até que um dia ele se cansou. Ele precisava saber as horas para saber a que horas o desenho iria acabar. E começou a estudar as sombras no chão, a prestar atenção nas conversas, pois não havia relógios por perto. Martin tinha ganho uma motivação, ganhou controle, sabia em que horário do dia estava. Começou a perceber que seus pensamentos podiam lhe ajudar, eles eram seus aliados. Assim, seu mundo mudou, ele tinha um propósito, podia viver em sua imaginação, inventar diálogos com as pessoas a sua volta e quando um pensamento ruim surgia, ele tentava entendê-los e passou a compreender a si mesmo. 

Aos poucos, Martin foi ganhando controle sob seu corpo, aos vinte e poucos anos já conseguia apertar a mão das pessoas e se sustentar em sua cadeira de rodas. Apesar de os médicos duvidarem de sua capacidade mental, uma enfermeira em especial estava convencida de que Martin merecia uma chance. Ele foi encaminhado para uma clínica onde vários testes foram feitos. Ele passou a ter sessões de fisioterapia e aprendeu a mexer no teclado por onde se comunica atualmente. Dois anos após ter sido submetido aos testes, pasmem, Martin conseguiu um emprego, preenchendo documentos em um escritório do governo. Mais tarde abriu sua próprio empresa de design de web, entrou na faculdade de ciência da computação, escreveu um livro, aprendeu a dirigir… e se casou aos 33 anos de idade. 

Após anos preso em seu corpo, não poderia estar mais feliz. “Meu rosto chega a doer de tanto sorrir”, é como Martin conclui sua jornada.

Joanna and Martin
Espero que essa história tenha tido um efeito positivo em você como teve em mim. Deixe seu comentário abaixo e ajude-nos a espalhar essa bela história de superação.

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